quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Vida Noturna

Cai a noite, Deus apaga a luz do mundo e todos vão dormir.
Menos eu. Para mim, essa é a hora que o dia começa. É a noite que a vida acontece.
É na escuridão que meus olhos enxergam a vida com mais nitidez. É nesse silêncio profundo que ouço melhor meus pensamentos. É quando a cidade dorme que minha mente acorda. É na companhia de ninguém que me sinto mais bem acompanhado.
São nesses instantes de confinamento no meu quarto que sinto a dor da apunhalada com mais intensidade e  choro o choro contido. É nesse momento que finalmente vomito os vários sapos engolidos ao longo do dia e consigo saborear o sabor das minhas vitórias.
É nesse horário que para a maioria é considerado a "hora do medo", do perigo, da insegurança, para mim é a "hora da paz", da harmonia, da desconexão com o mundo externo e conexão com meu mundo interior. É a melhor hora para me encontrar comigo mesma, para bater um papo sobre "nosso" futuro e ter um instante de privacidade e intimidade com a pessoa que mais quero conhecer mais profundamente nesse universo: eu mesma.
É quando o véu de breu é posto sobre o mundo que meus sentidos se aguçam e eu consigo perceber melhor tudo a minha volta e fazer as mais profundas reflexões sobre a vida. É na escureza que tudo se clareia pra mim: minha mente, minhas idéias, meus sonhos, meus objetivos e meus planos de ação para alcançá-los.
Mas chega uma hora que a necessidade do corpo de se desligar por completo entra em conflito com a vontade da mente de se manter a todo vapor, gerando um misto de frustração e ansiedade tão grandes que transformam a cama num campo de batalhas. E quando a mente finalmente cede e eu estou exausto, pronto para dormir, Deus acende a luz do mundo e o despertador grita que é hora de levantar.

De volta pra casa

Sempre que eu ouvia alguém reclamar do Brasil após passar um tempo em outro país, eu achava que era frescura, exagero, que a pessoa estava sendo esnobe e que estava querendo tirar onda com a minha cara. Mas daí eu (finalmente!!) passei por essa (terrível) experiencia.
Retornei para o Brasil em outubro de 2014 após passar 1 ano e 11 meses fora e a sensação que eu tive foi a de que nunca havia pisado aqui antes.
Estava TUDO diferente e ao mesmo tempo igual.
Foi bem confuso.
Parecia que eu havia apagado da minha memória todos os 26 anos que havia vivido aqui e só me recordasse dos últimos quase 2 anos da minha vida.
Daí eu percebi que os "reclamões exagerados e esnobes" na verdade estavam certíssimos! Quando a gente vai pra fora, principalmente para países ditos "melhores", o choque que se sente ao retornar é muito grande! Principalmente se você for pra viver 100% inserida na cultura do outro país por um longo período de tempo.
Já se passou mais de 1 ano do meu retorno e algumas coisas aqui ainda me chocam, como se fossem super inéditas mesmo não sendo. Por que será? Estranho né?
Eu sei que quando a gente tem um experiência dessas a gente cresce, amadurece, muda e quem (e o que) fica, fica na mesma, por isso o contraste é inevitável, mas poderia ser menos drástico né?
Eu ainda me pego estranhando o calor, estranhando a ineficiência da justiça, o pouco caso dos políticos e a falta de educação e respeito da maioria dos brasileiros, coisas que já existiam antes de eu ir e que já me incomodavam mas agora me incomodam absurdamente mais!
Eu voltei meio intolerante, eu acho... Ou será que as coisas mudaram mesmo?
Sempre me pergunto se "sou eu as coisas mudaram mesmo? Será que o país piorou mesmo ou fui eu que fiquei mal acostumada com um 'país de primeiro mundo'?"
Acho que os dois né?
Sinto uma sensação constante de "não pertenço a esse lugar", sendo que eu SOU daqui, eu TENHO que pertencer! É estranho pensar que por causa de míseros 2 anos fora sua pátria mãe se tornou uma completa estranha.
Me sinto bem mal com isso... Parece que estou menosprezando meu país, mas não estou! Bom, pelo menos não intencionalmente...
Isso me frustra e me deprime um pouco... me faz ficar saudosa demais de uma época que não voltará mais. E isso é PÉSSIMO!
Só espero que passe logo... Ouve dizer os primeiros 6 meses pós retorno são os piores, mas pelo visto eu fugi da regra até nisso, porque sigo aqui sofrendo pra me readaptar ao meu país de origem.
Será que algum dia vou me readaptar de fato?